sábado, 12 de setembro de 2015

Hoje quase morri atropelada.

Hoje quase morri atropelada.

Foi algo assim, bem rápido, tão rápido quanto tudo na vida que por algum acaso a gente não pode controlar.

Logo eu, sempre tão atenta ao atravessar a rua, fui pega desprevenidamente em um devaneio a respeito do que acontecia do outro lado da rua. O fato era mesmo de chamar a atenção, nesta onda de violência sem fim, na padaria onde regularmente costumo comprar ótimas cucas novinhas, com o vaporzinho saindo da embalagem, eis que avisto uma viatura da PM estacionada em sua esquina e alguns policiais fortemente armados dentro do estabelecimento. Logo me pergunto:  - será que assaltaram a padaria? Meu Deus…nem padarias não escapam mais…esta bandidagem cruel, sem limites, sem escrúpulo (bi-bi) onde a vida da gente não vale mais nada…(bii-bii) será que eu não deveria ter atravessado mais adiante? Porque se der tiroteio posso morrer aqui de bala perdid…(biiiiiiiiiiiiiii…..)

Quando olho por lado direito, só consigo enxergar dois clarões amarelados correspondentes aos faróis, um letreiro gigante indicando o destino do ônibus e o tal veículo a menos de um metro de mim…tive de correr…dei três passos corridos, apressados e desesperados para o local de segurança.

E daí fiquei pensando como seria ridiculamente idiota morrer atropelada por um ônibus, pensando em como não morrer de bala perdida em tiroteio.

E o resto do trajeto para a faculdade foi marcado pelo meu coração (que quase voou pra fora da boca) batendo apressadamente, minhas pernas bambas, e minha cabeça cheia de (novos) devaneios a respeito do ato de morrer e suas implicações.

Fiquei lá, imaginando minhas amigas recebendo a informação, algumas de coração partido, outras caindo em amargura e desânimo (pelo menos eu acho que assim seria…), meu esposo…como meu esposo reagiria??? Minha mãe??? Pobrezinha, eu acho que a mataria….

E daí veio aquele pensamento, sutil, porém inquietante e devastador: Será que valeu a pena até aqui???

Valeu a pena ter tantas idéias e nunca tê-las tirado do papel??? Valeu a pena não ter dito o que sentia e o que pensava com medo de represálias, com medo das vaias, com medo da rejeição??? ( esta velha amiga minha, por sinal…)

Valeu a pena desistir por tão pouco? Valeu a pena ter teimado por nada? Valeu a pena cada teimosia e cada fraqueza? Valeu a pena engolir tanto sapo? Ser tão paciente e cercada de pessoas que não possuem nem metade de sua paciência, que não perdem tempo, em nome da maldita “sinceridade” em te ferir e te deixar em frangalhos, e você ali, paciente feito uma tonta, ter engolido tanto tempo quieta, calada, em nome de sabe lá Deus o quê????

Valeu cada riso? Valeu cada choro? Valeu os sonhos que nuca realizou? E o que realizou, foram os SEUS sonhos ou os sonhos que os outros sonharem por você e pra você????

Valeu a pena ter sido tão politicamente correta e ter sido pisoteada pelas opiniões grosseiras dos outros que não são tão corretos quanto você? Valeu a pena cada minuto de integridade????

Valeu a pena permanecer com sua fé até o fim, e vê-la cair em desuso, vê-la servir de parâmetros para medir seu grau de mediocridade e ignorância???

Pois é. Nem tudo valeu a pena. Nem todo o riso foi de alegria. Nem toda a lágrima foi de tristeza, mas fato é que nem a vida vivi direito para que ela terminasse assim…comigo virando num patê de gente num pára-brisa de um ônibus que não reduziu a velocidade, mesmo sabendo que uma desatenta atravessava a rua, só buzinou…azar o meu se eu virasse o tal patê….

É. Eu ainda não vivi minha vida. Não vivi até a ultima gota.

Porque me falta tempo, me falta coragem, me falta dinheiro e principalmente, mais vida.

E pensar que isso tudo aconteceu por causa de uma viatura da PM numa esquina de uma padaria qualquer…..



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