segunda-feira, 21 de setembro de 2015

As lutas erradas da vida

É meio estranho, mas a verdade é que vejo hoje muita gente com falta de bons motivos para lutar, mas a vontade é tanta, de fazer valer a pena a vida, de usar suas energias, de ter uma história, que os motivos mais absurdos viram lutas.

Eu vi movimentos respeitáveis que lutavam por direitos de igualdade deixarem de representar a quem defendiam para virarem motivo de chacota e vergonha.

Eu vi ditaduras caírem, e darem lugar a outras ditaduras, silenciosas e muito piores.
Eu vi gente que de herói virou bandido, e bandido virando herói.
Eu vi gerações em conflito.
Eu vi guerras terminarem e recomeçarem.

E eu vivia a imaginar o dia em que isso tudo terminaria, em que viveríamos felizes em nossas vidas, viveríamos nossos dias com a certeza de paz e felicidade.
É obvio que eu errei. Cresci e aprendi de forma satisfatoriamente rápida que é disso que vivem os seres humanos.

Nós, os seres humanos, vivemos de lutas, de batalhas.

Daquelas que travamos todos os dias contra nós mesmos, contra nossos fantasmas do passado, contra nossa historia, contra nossos desejos e vontades, ou a favor de nossos sonhos e objetivos.

Também vivemos de outras batalhas, daquelas que travamos contra os outros (infelizmente), àqueles que nos importunam por pensarem diferente de nós ( e nos agridem com seu modo de pensar), por nos mal tratarem, por serem indiferentes à nossa dor.

Existem também as batalhas contra os que nos governam, contra aqueles que estão acima de nós, e ditam nossas vidas por decretos e desmandos.

É assim que nasce o ciclo das opressões. Mas sem opressões não há heróis.

Mas o que anda me deixando incomodada é a quantidade de pessoas incríveis, pessoas maravilhosas, providas de inteligência, de paixão por seus objetivos, lutando pelos motivos errados. Quando falo por motivos errados, não são por que eu não concordo com eles, simplesmente. Falo do objetivo final.

Falo de lutas que se confundem com interesses de terceiros, de lutas que se confundem com estupidez, lutas onde não há vitórias, lutas contra tudo e contra todos, como se o mundo fosse o grande culpado de tudo.

Nós vivemos de batalhas, nascemos para lutar. Ok.
Mas se for para escolher pelo que lutar, lute pelo que valha a pena.
Não lute por igualdade. Isso nunca acontecerá, porque somos seres humanos e onde houver humanidade não haverá igualdade. Exceto no paraíso, então lute para chegar lá.
Não lute para ter mais direitos do que os outros. Isso fere a luta por igualdade de alguém.
Não lute por objetivos que agridam a fé dos outros, que agridam os motivos de vida de outras pessoas. Pois pode ser que sua vitoria signifique o fim dos princípios de outras pessoas. Uma vida sem princípios é uma vida morta. Ou seja, sua vitória pode significar condenar alguém a viver a morte em vida. Se você consegue dormir com isso meus parabéns. Você é pior do que eu pensava.

Se suas lutas incluem derrubar os outras a qualquer custo, meus parabéns. Você é só mais um na humanidade, não fará a menor diferença sua luta, pois assim são a maior parte das pessoas que compõem as sociedades.

Quer bons motivos pra lutar? Sem parecer ridículo se contradizendo em seus devaneios por direitos e deveres? Lute por amor.

Não só as lutas nos movem. O Amor tem este poder devastador de nos fazer executar coisas eu jamais faríamos, de sonhar coisas que jamais sonharíamos. E quando falo de amor não falo de amor Eros, aquele amor que nos arrebata o coração e que nos faz amar aquele homem ou Aquela mulher de maneira única e incondicional.

Este amor está saturado, vejo de montes gente fazendo cagadas feias por aí me nome deste amor, gente que nem sabe direito o que é amar, mas este fica como tema do próximo texto.

Falo daquele amor pelo próximo, do amor de nos une, de se compadecer da dor alheia, e também torná-la sua, de enxergar os males do mundo e querer, desejar profundamente, acabar com as angústias dos demais.

Você quer um motivo real pra lutar? Visite uma APAE. Visite um orfanato. Visite um hospital. Visite um abrigo.

Lute por quem não pode lutar.

E então descobrirá um bom sentido para batalhar e viver.


Ou então, vá lavar uma louça. É mais útil ao mundo do que perder tempo brigando por causas que não são as suas.

sábado, 12 de setembro de 2015

Hoje quase morri atropelada.

Hoje quase morri atropelada.

Foi algo assim, bem rápido, tão rápido quanto tudo na vida que por algum acaso a gente não pode controlar.

Logo eu, sempre tão atenta ao atravessar a rua, fui pega desprevenidamente em um devaneio a respeito do que acontecia do outro lado da rua. O fato era mesmo de chamar a atenção, nesta onda de violência sem fim, na padaria onde regularmente costumo comprar ótimas cucas novinhas, com o vaporzinho saindo da embalagem, eis que avisto uma viatura da PM estacionada em sua esquina e alguns policiais fortemente armados dentro do estabelecimento. Logo me pergunto:  - será que assaltaram a padaria? Meu Deus…nem padarias não escapam mais…esta bandidagem cruel, sem limites, sem escrúpulo (bi-bi) onde a vida da gente não vale mais nada…(bii-bii) será que eu não deveria ter atravessado mais adiante? Porque se der tiroteio posso morrer aqui de bala perdid…(biiiiiiiiiiiiiii…..)

Quando olho por lado direito, só consigo enxergar dois clarões amarelados correspondentes aos faróis, um letreiro gigante indicando o destino do ônibus e o tal veículo a menos de um metro de mim…tive de correr…dei três passos corridos, apressados e desesperados para o local de segurança.

E daí fiquei pensando como seria ridiculamente idiota morrer atropelada por um ônibus, pensando em como não morrer de bala perdida em tiroteio.

E o resto do trajeto para a faculdade foi marcado pelo meu coração (que quase voou pra fora da boca) batendo apressadamente, minhas pernas bambas, e minha cabeça cheia de (novos) devaneios a respeito do ato de morrer e suas implicações.

Fiquei lá, imaginando minhas amigas recebendo a informação, algumas de coração partido, outras caindo em amargura e desânimo (pelo menos eu acho que assim seria…), meu esposo…como meu esposo reagiria??? Minha mãe??? Pobrezinha, eu acho que a mataria….

E daí veio aquele pensamento, sutil, porém inquietante e devastador: Será que valeu a pena até aqui???

Valeu a pena ter tantas idéias e nunca tê-las tirado do papel??? Valeu a pena não ter dito o que sentia e o que pensava com medo de represálias, com medo das vaias, com medo da rejeição??? ( esta velha amiga minha, por sinal…)

Valeu a pena desistir por tão pouco? Valeu a pena ter teimado por nada? Valeu a pena cada teimosia e cada fraqueza? Valeu a pena engolir tanto sapo? Ser tão paciente e cercada de pessoas que não possuem nem metade de sua paciência, que não perdem tempo, em nome da maldita “sinceridade” em te ferir e te deixar em frangalhos, e você ali, paciente feito uma tonta, ter engolido tanto tempo quieta, calada, em nome de sabe lá Deus o quê????

Valeu cada riso? Valeu cada choro? Valeu os sonhos que nuca realizou? E o que realizou, foram os SEUS sonhos ou os sonhos que os outros sonharem por você e pra você????

Valeu a pena ter sido tão politicamente correta e ter sido pisoteada pelas opiniões grosseiras dos outros que não são tão corretos quanto você? Valeu a pena cada minuto de integridade????

Valeu a pena permanecer com sua fé até o fim, e vê-la cair em desuso, vê-la servir de parâmetros para medir seu grau de mediocridade e ignorância???

Pois é. Nem tudo valeu a pena. Nem todo o riso foi de alegria. Nem toda a lágrima foi de tristeza, mas fato é que nem a vida vivi direito para que ela terminasse assim…comigo virando num patê de gente num pára-brisa de um ônibus que não reduziu a velocidade, mesmo sabendo que uma desatenta atravessava a rua, só buzinou…azar o meu se eu virasse o tal patê….

É. Eu ainda não vivi minha vida. Não vivi até a ultima gota.

Porque me falta tempo, me falta coragem, me falta dinheiro e principalmente, mais vida.

E pensar que isso tudo aconteceu por causa de uma viatura da PM numa esquina de uma padaria qualquer…..