sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Uma manicure, uma traição


Estava eu no ônibus quando ouço trechos de uma conversa de pessoas atrás de mim falando sobre uma moça chamada Fabíola que usava a manicure de ponte de escape para trair o marido. Não precisou muito para chegar em casa e verificar no faceboock várias e várias postagens do tipo “todos achando a Fabíola uma vilã por ir a “manicure” mas os homens irem ao futebol ninguém fala nada…” e coisas do tipo.

Então é isso? Estamos mesmo oficialmente em uma guerra entre sexos?  O importante é fazer tudo o que os homens nos fizeram por séculos?  

Se eles nos traíram por séculos, vamos traí-los! Se eles nos humilharam e nos trataram como seus capachos e suas escravas, agora é nossa revanche! Faremos deles nossos bananas favoritos, eles não terão vez nem voz dentro de casa, nós os sufocaremos com nossos desejos e vontades e teremos nossos escravos particulares sempre á vista!

Seguindo a ordem lógica dos fatos, não nos resta muita coisa a não ser começar a coçar o saco, catar meleca de nariz em ambientes públicos, não ter mais vergonha de soltar flatulências em públicos e não dar mais a mínima para nossas roupas e cabelos.

Afinal a luta por respeito realmente precisa incluir igualdade até das piores coisas?

Fica uma briga daqui e dali por defender ou crucificar a tal Fabíola e seu esposo, uns dizem que ele era um otário que mereceu os chifres que recebeu, outros dizem e a culpada era a moça em ter pulado a cerca com o tal do melhor amigo do marido, e no jogo de culpas, no jogo de empurra-empurra ninguém questiona a traição em si.  

Ninguém questiona o fato de porque uma mulher insatisfeita com seu casamento simplesmente não pôs um ponto final no relacionamento. Se faltava coragem pra um ponto final que pusesse uma vírgula, com aquele famosa frase “ vamos dar um tempo…” Mas não. Preferiu o mais cômodo: permanecer em um casamento cheio de insatisfação mas se sentir feliz e viva ocasionalmente com outro alguém.

Mas alguém pode dizer –“ talvez ela tivesse medo…” se uma mulher sente medo de ser honesta e sincera consigo mesma e com a própria vida, com os próprios sentimentos, por causa do homem que escolheu, ou mesmo um medo concreto, de ser agredida mesmo ( algo terrivelmente ainda comum nos dias de hoje) porque  ainda permanece dividido a casa e a vida com esta pessoa? Porque não o denuncia? Porque simplesmente não foge? Não pede ajuda?  Porque ainda acredita nas juras de amor? Porque ainda acredita que ele vai mudar? Como as tantas que morrem todos os dias?

Pessoalmente não acredito ser este o caso da moça Fabíola. Mulheres oprimidas possuem medo até de respirar, tanto mais de trair.  Mas fico realmente preocupada de como as coisas se estragaram ao longo do tempo. De repente ninguém liga que traição machuca, dói, que não é a forma mais adequada de começar ou terminar algo. Que se dane.  Homens otários  merecem chifres! E as mulheres? Ah as mulheres…as trouxas serão chamadas de “cornas” e as amantes serão as “piranhas” . E os homens? Nestas histórias eles mal aparecem…

Nossas relações estão se tornando muito efêmeras. Tudo depende do que eu quero, do quão feliz eu preciso estar, do quão satisfeita eu preciso ser. O outro? Que se dane!! O que importa é EU. Se nossos egos fossem menores e nosso amor fosse como de fato precisaria ser talvez as Fabíolas de fato fizessem as unhas e não tantas cagadas na vida. 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O desengasgue


Desde o inicio deste ano vivo uma saga no reino da burocracia devido ao meu emprego ser um estágio pela prefeitura de uma cidade.  E, evidentemente, desde o inicio do ano venho questionando como o serviço publico é péssimo, porque no mundo privado muitas destas barbaridades públicas não existem, tipo, duas horas e meia de almoço, uma pessoa falando grosseiramente ao telefone com você como se estivesse te fazendo um favor e não seu próprio serviço….enfim.  Quem nunca passou por mau bocados na mão de funcionários públicos não sabe o que está perdendo – uma amostra grátis de raiva e irritação sem medidas…  - .

E hoje não foi nada diferente do que de costume. Pessoas a me telefonar e me ameaçar de não me conceder meus direitos básicos caso eu não entregasse tais e tais documentos na devida hora, como se o mundo girasse ao redor da burocracia e seu maldito buraco negro onde se perde a noção de educação e de tempo. E exatamente como das vezes anteriores pacientemente ouvi os desaforos de forma cordial, respondo de forma educada e sego meu roteiro de boa menina e educada moça que não desce do salto.

Mas o ponto em que preciso chegar é que no ônibus, a caminho da conclusão da saga fiquei lembrado as milhões de vezes em que boa educação não me serviu de nada.  Alguém aí que está lendo isso agora se identifica com isso?  Quantas vezes você cansou de pedir com licença e na sequência quase foi carregada por alguém que nem ao menos se virou pra pedir desculpas? Quantas vezes você foi pisoteado, carregado, e ninguém nem aí? Quantas vezes você ali, paciente, se explicando e a outra pessoa nem aí? Ou pior, permanece na falta de educação e te reponde da pior maneira possível?

E, se você for como eu, não discute. Não briga. Não debate. Não exige respeito. Não paga na mesma moeda, não tem troco. E porque meu Deus do Céu? Por quê?

Daí me recordo de ter recebido uma educação onde eu não deveria responder torto pra ninguém. Onde eu deveria respeitar os mais velhos. Alguma coisa deu errado, porque respeito, até demais. E o que aconteceu com o mundo? Mudou? O que aconteceu com aquilo que era ensinado a tanto tempo atrás?

 E pior, sou daquele tipo que fica remoendo tudo o que poderia ter respondido e não disse depois que a situação passa.  Sou daquele tipo que morre engasgada com aquilo que não disse.

Será que sou só eu? Será que existem outras engasgadas por aí? Az vezes me parece que não. Ouço daqui e dali a famosa frase “ eu não levo desaforo pra casa” ou “ comigo é toma lá da cá” e meu sonho é um dia ser assim. “Tipo plano de vida pro futuro: criar coragem de enfrentar quem já conseguiu ler na minha testa a placa de “otária” e usufrui dela da pior maneira possível.


E se tem alguém aí assim como eu proponho o mesmo desafio: vamos tentar não engolir tanto a seco cada falta de educação que recebemos por aí. Se não qualquer dia a gente se engasga e pasmem – ninguém fará por nós aquilo que nós mesmos deveríamos ter feito – o ato do desengasgue.